Viver no Corvo
Corvo, a ilha mais pequena dos Açores e o mais pequeno concelho de Portugal. Infelizmente as noticias sobre este pequeno paraíso são muito escassas, ás vezes alguns relatos noticiários sobre eventuais catástrofes e os habituais cartões postais dos sítios mais turísticos. Este grupo de duas ilhas, Flores e Corvo, grupo de nome "Ocidental", é senhor de um péssimo clima, com chuvas frequentes e ventos ciclónicos. Para reservas ou outras informações queira clicar aqui e continuar a sua viagém. Boa estadia. | |
Vila Nova do Conde, a única povoação, que trepa em cascata do porto até ao meio de uma encosta seca de um Verão maior que o habitual, Verão de 1999. Gatos lânguidos adormecidos sobre muros sobre a costa, portas azuis de madeira, fornos bojudos que arredondam as casas e um mar que espreita a cada esquina dão à vila um ar mediterrânio. Mas depois há os porcos e as galinhas, criados ao lado das casas - porque, como diz o ditado, "a gente quando está à mesa, tem de estar a ver o porco" -, os caminhos muito estreitos e um labiríntico desenho de ruas que lembram certas aldeias das Beiras. As casas são brancas, na maioria, mas ainda existem as de basalto, a fazerem lembrar que estas terras são de origem vulcânica, embora estáveis. Lá a terra não treme. É o lugar dos contrastes, onde há tantos velhos como crianças, onde se vai de carro para empregos que nunca ficam a mais de cinco minutos a pé, onde todas as ruas e canadas (caminhos) têm nome, mas as moradas só indicam "Fulano de tal, Corvo". Quem teve de ultrapassar esta dificuldade foi o novo carteiro vindo do Faial. Durante os primeiros meses demorava horas a entregar a conrrespondência, até a mulher, nascida ali, lhe ter feito uma lista com o nome das pessoas e a indicação onde viviam. Felizmente tem muito tempo, pois o correio vem de avião, o que significa duas vezes por semana no Inverno e três no Verão. Contudo, o volume é grande, dado que muitas compras se fazem por catálogo e os jornais e revistas chegam por assinatura. Tudo isto torna o Corvo ainda mais longíquo. Embora acabem por confessar que, com o tempo, as notícias se tornam irrelevantes, relatizadas na sua importância. E claro, como se graceja, "um jornal do mesmo mês ainda está dentro prazo de validade". Mas no Corvo lê-se. Muito. A biblioteca conta com mais de dez mil volumes e chegou a registar os mais altos indices de leitura do país. Não há analfabetos entre os 380 habitantes, nem mesmo os mais idosos |
Autoria da revista: Evasões, Texto de: Ana Pedrosa, Futuras fotografias de: António Sá. Todos os direitos reservados.